O empreendedorismo social é uma prática largamente conhecida e tida como essencial para suprir a falta de alcance governamental em relação à inúmeras demandas sociais existentes pelo país. Existem milhares de projetos, de diversas caracterizações, atuando em diferentes segmentos, tais como educação, cultura, economia, necessidades básicas da população (saneamento, por ex), treinamento profissional, juntamente com todas as atividades de inserção social dos excluídos e marginalizados. Entre outros. Essas ações de empreendedorismo são implementadas geralmente por instituições do terceiro setor, mobilização social, ações de diversas caracterizações, coletivos, projetos em parceria sociedade/iniciativa privada etc.
Porém, o empreendedorismo social só existe por conta dos empreendedores: pessoas que olharam ao seu redor, ficaram insatisfeitos, tomaram sua paixão e vontade como carro-chefe e realizaram uma mudança de status-quo, implementando projetos inovadores e significantes com a colaboração de sua comunidade e buscando suporte, muitas vezes ínfimo, para engendrar formas melhores de fazer as coisas. O empreendedor é quem traz o que mais importa nesses casos, que é exatamente o incorfomismo e a atitude.
Quem geralmente observa esses projetos sociais de empreendedorismo, pode achar que é uma ação simples. E sim, geralmente ela é simples mesmo, treinamento profissionalizante, economia doméstica, práticas de consumo responsáveis, inserção de jovens carentes no ensino superior, construção de comércio sustentável etc. Mas, o que não se enxerga de prontidão é que o empreendedor assumiu sua missão social, com pioneirismo, orientados por um propósito, partindo do quase nada para o quase tudo! Reinventam processos, lutam, exploram alternativas, aprendem e meelhoram! Pisam em territórios nos quais a maioria de nós não passaria nem na calçada. Enfrentam grupos cara a cara em busca de negociações. Esses grupos podem ser governamentais, de outras comunidades, de projetos semelhantes, da iniciativa privada e também de traficantes, polícias, pessoas engendradas em processos complexos e com altíssimos interesses em jogo. Ou você pensa que não existe a possibilidade das coisas estarem ruins pois é conveniente?
Então, um homem um dia vê a Chacina da Candelária. Aquilo foi forte, denso, triste, perigoso, inaceitável. Eram jovens. Não pode. E este homem começa a pensar em formas de mudar aquela realidade social, de garotos envolvidos com violência urbana, cartéis, drogas, polícia e mais uma série de coisas que não, não são para jovens. Ele formula um projeto que mudasse a realidade desses jovens, os afastando desses problemas através da cultura&educação. Com muita luta ele consegue. Cria o AfroReggae, um dos maiores e mais eficientes projetos do país.
Consegue formar uma equipe comprometida para gerar atuação e mobilização social da favela do Vigário Geral, consegue crescer e expandir atividades, cria inúmeras ferramentas de mudança social, engloba mais e mais profissionais engajados na causa e acaba perdendo um destes, morto no último domingo, exatamente por um dos maiores problemas combatidos pelo AfroReggae: a violência urbana entre jovens.
Agora, eu só espero que a sociedade civil não deixe este caso cair no esquecimento ou se perder no corporativismo da polícia e seus processos desatualizados, problemáticos e ineficazes. Estou escrevendo sobre isso hoje exatamentee por ter ficado um pouco abalada por isso. Não por ter sido com um integrante do AfroReggae, até porque não existe nem uma conta de quantos empreendedore morrem em situações semelhantes. O problema também não é essa relação causa de luta/problemas/empreendedor, mas sim, o que pegou pra mim foi: que pena uma pessoa dessas. E sabe porque? Você pode dizer que é exagero e sentimentalismo, mas não é. Pensar em milhares de projetos é FÁCIL. Você mesmo pode pensar em ações sociais que gerem diferenças na vida das pessoas. Não pode?
Mas você faz? Quantas pessoas você conhece que se engaja em causas sociais? Poucas ou nenhuma? Tudo bem, é normal. Até porque numa sociedade devem haver pessoas que atuem em todas as áreas. Eu tenho um viés que se aproxima muito do empreendedorismo social e por isso fiquei chateada com essa história toda. Não quero fazer o Evandro de mártir. Não mesmo! Até porque ele não morreu por sua causa diretamente, mas foi morto por um dos problemas que combatia diariamente, com ferramentas alternativas dentro dos projetos que coordenava no AfroReggae. Agora, ouvir do porta-voz da polícia que foi pode ter sido apenas um "desvio de conduta" por parte dos policiais envolvidos... Por favor!
Ficam aí meus pensamentos sobre esse caso.
No comments:
Post a Comment