September 10, 2009

Não-hegemônico / ella baila sola ... umpardedois

- Jamais vou te atrasar.
- Eu sei.
- Você precisa deixar de ser...
- Medrosa...
- Mais ou menos. Acho que não era o que eu queria falar – pausa. Pra onde você for eu vou contigo. Até se for outro país.
- Bom mesmo.
- Vamos rever essa conversa quando estivermos sóbrios?
- Acho melhor...
- Se alguém algum dia encostar um só dedo em você...
- Eu sei.


Etapas. Quantas etapas de vida são necessárias para que uma situação se encaixe? Quantas tentativas uma pessoa pode ter pra tentar explicar o que só se pode sentir? Como se pode ter certeza? Ter o que? Certeza?! Não... Isso nem com muita estratégia. Diga lá apenas sentindo. O negócio é o seguinte: alguém aí alguma vez parou e percebeu que depois de quase 6 etapas algo simplesmente fez sentido?
Sem promessas. Sem lamúrias. Sem verdades absolutas ou divagações sobre o futuro ou passado. Mudanças de perspectivas de ambos os lados teve sim. Água debaixo da ponte teve muita. Intimidade e complacência, mais ainda. Depois de muitos anos. Não é nem intimidade, a palavra certa seria... cumplicidade. É o barato do sentido de novo. Ninguém tentou se convencer de nada, ninguém tentou convencer o outro de nada. Ninguém usou máscaras. Seria ridículo, afinal um conhece ao outro tão na essência que chegou a ser patética fazermos perguntas das quais já sabíamos as respostas. E ao mesmo tempo sabíamos exatamente o que o outro buscava ouvir. E falávamos, com toda a naturalidade que só o que é genuíno poderia ter.
Agora me diz, como? Como? Descobri que tem um lugar no qual cada etapa que se passa mais eu me sinto a vontade. Como? São quase 6 anos. Mas depois que você larga as armas, consegue enxergar uma verdade que antes não se via. Ou melhor, que não se contemplava em toda sua essência. O foda é quando você faz uma lista mental de todas as coisas que você gostaria de ouvir de alguém, mas ouve tudo da pessoa menos improvável possível. E o pior: faz sentido e se você contestar estará mentindo, porque no fundo você sabe que esse sentido e conforto e naturalidade e cumplicidade são verossímeis. Daí o que se faz? Compra-se a briga? Começa a preparar terreno? Dá risada? Porque depois desse encontro tão lúcido e simples, a única coisa que não dá pra fazer é ignorar. Na verdade eu não quero ignorar.
O mais foda ainda é quando você observa e percebe (é arrebatada pela constatação de) que o momento mudou para ambos. E daí o susto com a naturalidade de como as coisas soam é demais e difícil de assimilar. Pois nunca foi assim. Não me pergunte o que tanto mudou. Só vejo agora duas pessoas... que nem sei no que hoje diferem do passado. Sempre existiram peças que não se encaixavam naquele fantástico e atormentador quebra-cabeça. Mas hoje ele não é mais um quebra-cabeça... é um romance de não-ficção, muito bem amarrado, como um Anna Kariênina. Não sei explicar o que só posso sentir agora. Só peço que confiem em mim. Pois não sei por que, mas vale uma chance e eu quero essa chance. Não pergunte por que e não me julgue, apenas tenha confiança, assim como eu confiei no tempo e nos atos que eu nem sabia que ele havia tido. Foram anos dele me observando de longe.


- Você sabe que não é mais uma disputa de egos, você percebeu?
- E você sabe que eu nunca duvidei de que...
- Eu sei.
- Ta... É que essa coisa de trajetória...
- Você realmentee comprou uma jaguatirica?
- Nós não estamos sóbrios...
- Mas isso é um sim?

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