October 21, 2007

Queria que já viesse mastigado

Dessa vez eu gostaria de encontrar escrito em algum lugar porquê eu estou como estou. A vida ficou estranha. Cara, do nada. Bateu uma insatisfação terrível. Pode ser que seja depois de ser lembrada de que não ter apoio afetivo é barra. Provavelmente é isso, já que meus olhos enxeram-se de lágrimas quando eu digitei isso. Não falo de amigos ou família. Mas sim daquele pedaço de outra pessoa que costumava enxugar minhas lágrimas no metrô ou segurar minha cabeça contra seu peitoquando eu precisava. Que me deixava chorar sem fazer muitas perguntas e que me beijava e me jogava sorrisos afetuosíssimos. Ele me puxava pra dento da floricultura e dizia "seu quarto está sem flores... escolhe", perfumando meus dias. Agora eu tenho um cachecol que não alivia mais muita coisa, uma pilha de bichinhos de pelúcia que me encaram, um CD roubado dele que eu não quero mais ouvir, um livro já lido e com uma dedicatória forte na estante, milhares de lembranças e cartas em francês que já decorei as traduções faz tempo. Ah, e toneladas de carinho.
Ontem com ela relembrei que nesse processo louco, que cada uma de nós temos, o que não vale é reprimir sentimentos, engavetando e sorrindo por aí. O negócio é tentar se resolver, pra não chegar no ponto de ter que gritar "por favor, não me deixe atingir o chão". Às vezes leva anos, especialmente para cancerianos. Só sei que por enquanto eu dou risada na balada enquanto recebo cantadas fenomenais como "Oi, sou leonino... e vc? (respondo que canceriana) ... Nossa, perfeita!" e tento me divertir com o melhor que tenho, apesar da confusão que tem me causado enxergar o melhor que tenho. Ou não enxergar. Tenho tentado ser o mais realista possível. Que coisa complicada. Perdas e ganhos. Maximização de benefícios e minimização de custos. Desapego e aceitação. Querer é poder. O valor do pensamento positivo e a porra do segredo. Às favas. Dá um tempinho, vai...
Talvez seja novamente só mais um daqueles momentos em que precisamos ser encostados na parede para ouvir alguém nos dizer todas as nossas qualidades. Preciso sim de um pouco de auto-afirmação agora. Meu ego anda meio falseta. Meu bom-humor é verdadeiro, mas ele se contenta com pouco. Meu fôlego anda curto e lento. Assim como meus dedos, minha paciência, meu cérebro e o pensamento do desafortunamento. Fria tenho certeza de que não estou me tornando... e como não! É até o contrário, ando mais intensa do que nunca. Mas a desatenção anda até tirando o sono. Não estou bem, mas só preciso de um momentinho. Sem porres, sem choros intermináveis. Sem desesperos enormes. So quero desanuviar a minha cabeça. Nem é pedir muito... Clara, precisa, acho que não. Um turbilhão vagaroso pelas ruas.
Falta vontade de me arrumar para estar bem apresentável amanhã no almoço de família.
Eu podia ao menos querer me arrumar pra mim, né? Ai, que caótica.

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